segunda-feira, dezembro 19, 2005

“ZHONG GUO O ACORDAR DE UM GIGANTE”

As primeiras comunidades começaram a concentrar-se há cinco mil anos em torno do Rio Amarelo, sendo que, ao verificarem a sua equidistância face aos outros Povos, pensaram estar no centro do Mundo, tendo-se auto-denominado de Império do Meio (Zhong).
As expedições de Marco Pólo marcaram o início das relações entre o Ocidente e o Extremo Oriente, dando a conhecer povos e culturas milenares até então desconhecidos do Mundo Ocidental, e cultivando o início de um sentimento de fascínio e exotismo que perdura até aos nossos dias.
Este país com 1.300 Milhões de habitantes (900 Milhões em espaços rurais e 400 Milhões nas cidades), a quem Napoleão designava de “Gigante Adormecido”, encontra-se actualmente no início de um difícil processo de transição, com repercussões a vários níveis, marcando de forma decisiva a agenda político-económica mundial.
A entrada da China na OMC (Organização Mundial do Comércio) em inícios de 2001, foi o culminar de um processo iniciado na década de 80, com a tomada de consciência por parte das autoridades chinesas do esgotamento do modelo de economia vigente, e da inevitabilidade da sua transição para uma economia de mercado.
Nos últimos anos a economia chinesa tem registado um crescimento económico de dois dígitos, fruto da conjugação de vários factores, tais como, o surgimento da iniciativa privada, a entrada de investimentos ocidentais e a assumpção por parte das autoridades de políticas pró mercado.
Actualmente, a “Fábrica do Mundo”, a quem já chamam, tem absorvido grande parte do IDE (Investimento Directo Estrangeiro) Mundial, contando no seu território com praticamente todas as maiores multinacionais, que aí aproveitam para fabricar os seus produtos a um baixo custo.
Este “exército de trabalhadores”, constantemente “alimentado” pela migração de trabalhadores dos espaços rurais para as cidades, tem contribuído para a manutenção dos baixos custos de mão-de-obra (prevendo-se que assim se mantenha a médio prazo), influindo positivamente no preço final dos produtos aí produzidos.
O factor custo, aliado ao forte apoio que as autoridades chinesas garantem às suas exportações, constituem importantes vantagens competitivas, pondo em causa alguns dos sectores mais tradicionais das economias ocidentais, tais como os têxteis e o calçado.
No entanto, a presença da China no Ocidente, não se resume a meras exportações, actualmente assiste-se a uma vaga de emigração chinesa para praticamente todo o Mundo, multiplicando-se os estabelecimentos comerciais de produtos chineses (em Portugal existem actualmente cerca de 15.000 chineses legalizados), verificando-se igualmente algumas importantes aquisições de empresas europeias e norte-americanas.
Também em África, assiste-se a uma forte penetração da China, com claros dividendos a vários níveis, nomeadamente na questão política de Taiwan, na qual as autoridades chinesas tem ganho cada vez mais aliados (como aconteceu recentemente com o Senegal), fruto de avultados investimentos em alguns desses países, mas também devido à pretensão de alguns países africanos a um lugar permanente no Conselho de Segurança da ONU, onde a situação privilegiada da China poderá facilitar ou vetar a entrada destes candidatos.
Em termos económicos, e para além dos investimentos supra-mencionados, a presença da China em África justifica-se principalmente pela preocupação em garantir o fornecimento contínuo de matérias-primas (nomeadamente de petróleo) para a sua economia em crescendo.
Apesar dos excelentes indicadores evidenciados pela economia chinesa, tem-se verificado que o actual ritmo de crescimento tem criado problemas de ordem social, ambiental, levando inclusive a que as autoridades chinesas tenham vindo já refrear o ímpeto de crescimento. De acordo com a disciplina económica, crescimento económico não é sinónimo de desenvolvimento económico.
Embora se tenham dado passos importantes, a transição para uma economia de mercado continua algo distante, tendo em conta que subsistem ainda algumas importantes lacunas, tais como, a ausência de um sistema financeiro moderno, de um eficaz quadro legal regulador da actividade económica, a definição da propriedade privada, entre outras.
Não obstante estes condicionalismos, a China tem sabido adaptar-se rapidamente às novas exigências, aproveitando claramente as oportunidades de mercado, e assumindo-se como um jogador cada vez mais determinante no xadrez da Globalização.
Como diz um velho provérbio chinês - “Uma longa viagem começa com um passo.”

Recardães, 15 de Novembro de 2005
Filipe Almeida de Carvalho
Economista

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