sexta-feira, fevereiro 25, 2011

Coragem e Responsabilidade (II)

Mas a coragem não é só necessária nesses momentos. É preciso coragem, também em momentos de silêncio, de acalmia mediática. Aí a coragem é outra: a coragem de limpar armas, arrumar a casa e seguir mais aprumado.

A retirada de consequências políticas de tomadas de posições específicas, muitas vezes das mais silenciosas, de discursos que não se ouvem e que não se lêem é reveladora da nossa posição na política. A falta de coragem nunca pode ser esquecida, nem se espera que outra seja a consequência, mesmo pelo próprio cobarde.

Quando alguém assume publicamente um comportamento sabe quais as consequências que o espera. No processo de decisão, cada um de nós avalia a bondade, o risco e as consequências que daí podem advir. Se não existe a posterior consequência, torna aquele que tomou a decisão irresponsável e inconsciente, deixa os outros desacreditados e deixa os responsáveis por uma repercussão, descredibilizados e frouxos.

Ademais, se a tomada de posição for contrária a princípios políticos, classificando-a, dessa forma, de uma má decisão, de que vale manter confiança em alguém que já sabemos qual a sua natureza?

A confiança quer do abrangido pela decisão, quer dos outros companheiros estará irremediavelmente comprometida e a consequência política a não existir, determinará por si só a nossa própria inexistência. Porque de facto, naquele momento, no momento em que a coragem é pedida aos outros, nós próprios fugimos da coragem que devíamos ter, e não existimos enquanto grupo.

A coragem entrará então no campo da responsabilidade. Quando pedimos que um determinado governante seja corajoso, queremos dele um determinado comportamento que achamos correcto segundo os nossos valores. E é por esse facto que mais tarde, não havendo correspondência, retiramos a consequência lógica e não votamos nessa pessoa, ou seja, assumimos uma posição de coragem e responsabilidade.

Ao votarmos na mesma pessoa, mantendo o status quo ou quando nos abstraímos dessa votação, colocando-nos de parte, passamos a ser parte do problema e não da solução.

A abstenção, que não seja propositada, é um sinal claro da falta de coragem e responsabilidade. E todos nós lutamos, em todas as eleições contra ela. Esse e este combate por si só são actos de coragem e de responsabilidade, pois, desprovidos de interesse pessoal, assumem não querer manter a situação actual das coisas.

É por isso que, nos dias de hoje, não podemos pedir coragem a políticos que conhecemos pela sua falta intrínseca de coragem, a políticos que conhecemos pela sua actuação pública e política desconcertada se, no mínimo, nós próprios não assumimos posições de coragem.

Note-se que uma posterior posição levará sempre a uma consequência, mas veja-se: há várias formas, silenciosas ou não, discretas ou não, internas ou externas de tomar uma decisão; uma posição de coragem baseada na verdade e sem artificialidade nunca verá a sua razão ou bondade ser discutida, ter coragem é ser responsável e, por último, a coragem é sempre recompensada!


João Paulo Veiga

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Coragem e Responsabilidade Parte (I)

Em qualquer momento da história política existem decisões para ser tomadas. Essas decisões, mesmo as mais conseguidas, são sempre tomadas por um homem normal. Ao mito de que é nas horas mais críticas que os espíritos superiores se revelam, contrapõe-se um feliz pensamento, mais justo: as decisões são tomadas por aqueles que aparecem.

Quem está presente num determinado momento não pode esperar um golpe intuitivo ou de genialidade para assumir uma determinada posição, nem esperar um outro tipo de revelação mágica para agir. É, no entanto, nestes momentos que mais se sente falta de uma importante virtude: a coragem.

Intrínseca ao processo de decidir, mas muitas vezes esquecida, a coragem vem por estes dias escasseando. É por outro lado, a mais criticada das virtudes. Ao assumirmos uma determinada posição, sabemos que as consequências podem ser várias, mesmo as posições tomadas puramente na área da retórica.

Ainda recentemente Pedro Passos Coelho tomou uma forte posição: as empresas públicas que dão prejuízo crónico devem ser fechadas.

A coragem não é muita se pensarmos na sensibilidade actual, da população em geral, no sentido de terminar com as mordomias e desigualdades muitas vezes existentes nesses organismos.

A coragem está no facto de PPC dirigir o maior partido português, cuja fervilhação interna assim que se sente no poder é de tal modo que a pura existência de tantos cargos para distribuir, compacta o partido na procura da vitória nas, iminentes, eleições legislativas.

Mas, dizia, entende-se a bondade por detrás desta afirmação – a ideia de diminuição dos gastos operacionais e não operacionais do Estado, com prevalência nos campos onde a intervenção do Estado ou não se justifica ou onde concorre mal com os privados. A ideia de que, tal como os privados, o Estado deve vigiar as suas contas e zelar, consequentemente, pelo cumprimento das suas obrigações com os seus devedores.

A falta de ponderação política da frase, aliada ao desenquadramento noticioso em que a mesma foi proferida, levou à rápida proliferação de vozes críticas. Se repararem, o que PPC disse foi que queria saber quais as empresas públicas que dão prejuízo crónico. Mas não foi isso que passou. Chegou mesmo a ouvir-se que PPC tinha um preconceito ideológico contra tudo o que era público. Faltou, dizem alguns, individualizar as empresas, apontar números e tornar incontestável o seu argumento.

O Estado, como sabemos, não pode viver segundo a mesma lógica que os privados, e deve mesmo em sectores específicos ter um prejuízo crónico. Mas essa não é a regra. A regra, como sempre defendeu o PSD é o despesismo, o nepotismo e o rombo persistente nas contas em sectores não essenciais, em fundações e institutos rapidamente criadas mas muito vagarosamente extintos. Mas, mais uma vez a mensagem não passou.

Esta é a marca do mais recente PPC. Numa crise sem precedentes, internacional, mas muito influenciada por sucessivas políticas arruinadoras por parte do Partido Socialista, com o descrédito na classe política actual, também sem precedentes, e com uma imagem inicialmente renovadora, PPC vê-se agora com a imagem gasta, sem conseguir sequer passar a sua mensagem.

A comunicação falha e as sondagens não disparam. O estilo esse é totalmente diferente do actual Primeiro-Ministro. Mais preocupado com a matéria que com a forma, mais preocupado com o conteúdo que com a imagem, não torna suficiente na população a vontade de o eleger rapidamente, sentimento que seria o mais normal e concebível face à descrença na actual Governação.

É nestes momentos que a coragem política mais falta faz. A coragem de assumir reformas estruturais, a coragem de assumir planos a longo prazo, a coragem de assumir uma posição de mudança. A mudança não pode ser apenas um slogan de campanha, já centenário.

Desde logo porque esgota-se rapidamente e passa a cheirar a mais do mesmo. Para que isso não aconteça, basta atentar na democracia norte-americana. Há 3 anos atrás, Obama, empolgado com a sua brilhante retórica, inicia as primárias com “WE WANT CHANGE”. Mesmo não sendo o único dos democratas que o acolhiam, o slogan ficou indissociavelmente ligado a ele. Mas não se bastou aí. Após New Hampshire e a campanha com McCain, iniciou, de facto, um conjunto de reformas (sendo as mais marcantes a revogação da Lei Don’t Ask, Don’t Tell e a aprovação da Reforma do Sistema de Saúde) que mantêm, por incrível que pareça, a mensagem de Mudança actual. Mesmo sendo Presidente há 2 anos refere-se constantemente à Mudança e a mensagem não cansa, mesmo perante os media republicanos, como por exemplo aconteceu no discurso sobre o Estado da Nação, no passado mês de Janeiro.

João Paulo Veiga