domingo, dezembro 03, 2006

Martin Luther King


“Eu Tenho um Sonho...”

…… Que um dia seja possível que os filhos dos antigos escravos e os filhos dos antigos donos de escravos possam sentar-se lado a lado na mesa da fraternidade”.

Assinalam-se 43 anos da Marcha sobre Washington, que no dia 28 de Agosto de 1963, reuniu junto ao memorial ao presidente Abraham Lincoln cerca de 250 mil manifestantes contra a segregação racial, tendo como líder Martin Luther King cujo discurso marcou um ponto de viragem na história da luta pelos direitos cívicos.

Martin Luther King nascido em Atlanta (a porta de entrada do Sul) no seio de uma família religiosa (o seu pai era pregador assim como o seu avô e bisavô), cedo despontou para as causas sociais, e nomeadamente para a luta contra a discriminação racial a que a comunidade negra era votada.

Após a conclusão dos seus estudos abraçou a causa ministerial, e tornou-se pastor da Igreja Baptista em Montgomery, local onde mais tarde surgiria o movimento designado de MIA (Montgomery Improvement Association – Associação de Melhoramento de Montgomery). Foi precisamente nesta pequena cidade que se iniciou o movimento de protesto conhecido como o boicote aos autocarros públicos, fruto da prisão da Sra. Parks que se recusara a sair do seu lugar para dar lugar a um passageiro branco que acabara de apanhar o autocarro.

Este facto despoletaria um conjunto reacções não violentas por parte da comunidade negra, que com um punhado de soluções engenhosas (recurso a um bem planeado sistema de transportes, primeiro com o recurso a táxis, depois com o uso de veículos particulares) conseguiu levar por diante o protesto, com o Supremo Tribunal dos Estados Unidos a decretar inconstitucionais as leis de segregação nos autocarros.

Apesar das pressões e intimidações sofridas por Luther King e seus pares (com passagens por diversas prisões e atentados contra as suas vidas e as dos seus familiares), foi usada pela primeira vez em território americano a arma da revolta/resistência não violenta, anteriormente ensaiada por Mahatma Gandhi na Índia – “Gandhi era a luz que nos guiava no nosso propósito de transformação social pela via da não violência”.

A vitória ocorrida em Montgomery constituiu o ponto de partida para o alastrar da luta a outros locais onde a opressão e o desrespeito pelos direitos cívicos da comunidade negra eram evidentes, culminando com a grandiosa marcha sobre Washington, exigindo ao Congresso a promulgação de legislação consagrando a igualdade de direitos entre negros e brancos.

A atribuição do Prémio Nobel da Paz em 1964 constituiu o reconhecimento internacional do papel de um homem e da sua luta pelos direitos cívicos, dando visibilidade a um movimento que extravasara já para outras partes do globo (Gana, África do Sul, entre outros).

Antes do seu desaparecimento, vítima de assassinato em 4 de Abril de 1968, quando participava numa greve em Memphis, assistiu ainda à aprovação do - Voting Rigths Act - que concedeu direitos políticos aos negros do Sul.

Apesar da sua perda, o seu legado permanece vivo entre nós, e neste mundo conturbado em que vivemos e em que nos sentimos muitas vezes perdidos, também nós tenhamos a coragem de dizer “Eu tenho um Sonho…….“.

Filipe Almeida de Carvalho
Economista

3 comentários:

Anónimo disse...

A meu ver, são líderes como Luther King que fazem falta no mundo actual!! Ele marcou um país, uma época e uma geração de pessoas que encontravam nele a referência que precisavam para lutarem pelos seus direitos.

Talvez à nossa geração nos faltem referências...

Anónimo disse...

Se nos Estados Unidos a segregação racial sempre foi escancarada, assumida e com desdobramentos violentos sérios com clara justificativa no preconceito, do Brasil para o mundo sempre se alastrou a idéia de paraíso racial. Ocorre que, se no Brasil é vergonhoso se admitir o preconceito, não se pode deixar de lado as consequencias omitidas com o véu da hipocrisia, e que fatalmente mantiveram as relações sociais e economicas, no Brasil, imutáveis no que diz respeito à distribuição de riquezas entre as raças, mesmo após a proclamação da república. Poucos anos após a proclamação da república, houve a chacina de Canudos, no interior da Bahia. Era uma comunidade mestiça e que não viu na república nenhuma mudança social, e que desejava viver isolada do resto do Brasil, com suas proprias regras e valores. Mas a república viu neles uma ameaça e os dizimou. A república, que atirou tantas pedras no autoritarismo monárquico, sujava suas mãos de sangue para se manter no poder. Hoje, no Brasil, na música, no futebol e nas relações sexuais, o negro é belo. E o racismo é feio (que fique claro). "Vamos nos amar", assim apregoa o senso coletivo. Somos um país multi-racial, mas surdo, mudo e cego, que não vê que, após mais de uma centena de anos, os negros continuam à margem da sociedade. Claro que existe a vantagem de não haver guerra entre guetos, e brancos e negros podem conviver sem que isso culmine em atos violentos. Além disso, a lei pune com severidade o crime de racismo. Mas por que os brancos são maioria nas universidades? Por que os negros e mulatos são maioria nas favelas? Porque nunca houve uma política eficaz de inclusão social, desde a abolição da escravatura. Os negros foram substituídos pelos imigrantes (italianos, espanhóis, etc) e ficaram à margem da sociedade. Agora, a democracia é inútil na resolução dos problemas sociais e políticas hipócritas tentam reverter a situação, como o sistema de cotas nas universidades públicas. Contraditoriamente, essa política é mais segregacionista que inclusiva, à medida que consolida as diferenças raciais e o público afro-descendente como minoria. Se eles são realmente iguais, não precisam de paliativos condescendentes para os incluírem nas universidades. Precisam sim ter acesso a educação de qualidade, desde o início de sua idade escolar, para que tenham condições de competir com igualdade de condições no mercado de trabalho, depois que deixarem a universidade. Além disso, tal como procurar uma agulha no palheiro fica difícil, hoje, dizer quem é negro e quem é branco no Brasil. O que não vai ter gente levemente morena tomando um sol nas areias de Ipanema, pra ser beneficiado pelo sistema de cotas, não está escrito no gibi...

Anónimo disse...

pessoas como Luther King ou como John F. Kennedy fizeram parte da formação da minha personalidade enquanto defensora dos direitos, liberdades e garantias de cada um de nós. Acima de tudo é preciso acreditar que realmente somos todos irmãos, e, apesar da dura realidade, temos direitos a termos as mesmas oportunidades na vida. Educação civica, cidadania, direitos humanos, defesa do ambiente, são matérias que deveriam ser básicas nas escolas, de modo a abrir os horizontes de cada pessoa que ouvisse discursos como este.