terça-feira, junho 27, 2006

ENSINO, SUPERIOR ?

Portugal teve nas últimas décadas um dos mais notáveis processos de democratização da oferta do ensino superior, desde o 25 de Abril de 1974, ao surgimento do Ensino Superior Particular e Cooperativo em 1980, à adesão à então C.E.E. em 1986, e no grande aumento do número de cursos em 1992.

Este crescimento foi positivo, mas infelizmente desproporcional, existindo actualmente em Portugal um número excessivo de 1763 bacharelatos e licenciaturas.

Das 162 Instituições de Ensino Superior, 45 são públicas e 117 privadas, existindo aqui também uma clara assimetria.

Com taxas elevadas de abandono escolar, com um número muito baixo de licenciados, pior ainda, excessivo em áreas que o mercado de trabalho não consegue absorver, reduzido onde ele precisa mais.

Tudo isto devia levar este e qualquer Governo a repensar o modelo de ensino superior que quer para Portugal, fortalecendo as redes entre Universidades, Politécnicos, laboratórios de investigação e empresas, não esquecendo as Instituições Públicas, respeitando as novas directivas que a Declaração de Bolonha leva a implementar.

Mas, importa não esquecer que para 2006 as verbas não aumentaram, pelo contrário, existiu um corte real de cerca de 15 M€ !

Mas enganam-se aqueles que pensam que todos estes problemas se resolvem pedindo apenas mais verbas. Não.

O investimento disponível do Orçamento de Estado para o ensino superior não precisa de ser maior, precisa sim, é de ser melhor gerido e quem o gere tem de ser responsabilizado pela sua gestão.

Por outro lado, a Declaração de Bolonha é neste momento uma das peças fundamentais do Puzzle do Ensino Superior em Portugal.

Mas infelizmente Portugal continua com muitas carências, por exemplo, o parque escolar continua degradado, não existe manutenção preventiva, os equipamentos desportivos são demasiadamente escassos e nada atractivos, não existindo uma política de estratégia global, no que se refere a esta matéria.

Como podemos querer Desporto Universitário a sério se não temos meios para a prática desportiva? Não faz sentido. Onde está o acesso aos cuidados de saúde adequados ?

A investigação é praticamente nula, existem poucas condições e poucos apoios públicos para o efeito. Não podemos continuar a ter 300.000 empresas, mas apenas 18.000 investigadores. Precisamos de mais e melhor investigação.

O insucesso escolar é alarmante ! O abandono escolar atinge níveis preocupantes !

Neste momento existem cerca de 42.000 jovens licenciados no desemprego !

O nosso Concelho, como sabemos, tem cerca de 1899 desempregados ! Quantos serão jovens licenciados ?

Por outro lado, penso que a acção social devia assentar num modelo diferente, abrangendo o Ensino Público e o Ensino Particular e Cooperativo, para combater carências gravíssimas como a falta de cantinas e de residências académicas, que continuam a existir.

Não existem estímulos objectivos para o arrendamento jovem !

Só com estabilidade do corpo docente, publicação de rankings, com um Plano nacional de prevenção do abandono escolar eficaz, teremos condições para mudar o Ensino Superior em Portugal.

Ter a coragem política de regular o número de vagas pelas saídas no mercado de trabalho é fundamental.

O aumento da dedução à colecta em sede de IRS, rever todo o sistema de bolsas, são estímulos que os estudantes precisam !

Acredito desta forma na discriminação positiva do mérito.

Portugal não pode esperar mais tempo. A Escola Superior de Tecnologia e Gestão de Águeda é um oásis neste panorama nacional, mas é sempre possível fazer mais e melhor, ter a ambição de melhorar sempre.

Carlos Franco, Águeda, 5 de Junho de 2006

1 comentário:

Rui Neves disse...

O que falta verdadeiramente é coragem politica para enfrentar os lobbyes instalados no sector...

E para mim, a re-estruturação tem que passar por uma reforma profunda, a começar logo no 1.º ciclo, criando melhores condições que incentivema práctica do estudo aos alunos, desde muito pequenos, em áreas chave, como a matemática, as TIC ou uma segunda língua!!